POLÍTICA
Agosto 07, 2013
Tarcísio Pacheco
imagem: http://skreened.com/myshirtsucks/politics-suck
Quase nunca escrevo sobre política, por uma questão de preservação do meu bem-estar e da minha saúde mental. Estou tão cansado, tão enojado com a história política do meu país, cuja situação atual é uma espécie de previsível clímax, que tenho resistido a escrever sobre política porque esta me parece asquerosa. E não tenho medo de adjetivar, faço-o com plena consciência. O medo que tenho é de me deixar dominar pela raiva, pela revolta, pela emoção e isso perturbar a minha capacidade de analisar com rigor e objetividade.
Além disso, quando olho para o espectro político atual, não sei sequer para onde me virar. Desde o 25 de Abril que vivemos sob o domínio dos partidos políticos, nomeadamente do chamado Bloco Central (PS e PSD). Foram os seus líderes, todos eles, com os seus parceiros e cúmplices, uns com mais responsabilidades que outros, que nos conduziram ao fosso em que estamos mergulhados. Além disso, adormecidas que estão as velhas ideologias, não vejo grandes diferenças entre PS e PSD. É exatamente por isso que se criou a expressão Bloco Central. Na situação atual, este Governo do PSD/PP representa claramente o neo-liberalismo de origem norte- americana, os interesses dos grandes grupos económicos e o poder do grande capital; o PS, na oposição, passa por defensor do povo e do Estado Social. Mas isso pode mudar rapidamente se o PS se apanhar de novo no poleiro, uma vez que o seu atual líder não é exatamente um vanguardista, um revolucionário ou um visionário. Na verdade, é da mesma cepa, da mesma escola de Passos Coelho. Mais para a direita, tenho a certeza que não quero ir, os Deuses nos livrem de conservadores, reacionários , beijocadores de velhinhas, tementes a Deus, de mentalidade convencional e hipócrita. Mais para esquerda, não sei como seria mas confesso que gostava de experimentar um verdadeiro socialismo democrático, que pouco tem a ver com o cinzento PS. Do que tenho a certeza absoluta é que não quero viver sob nenhuma espécie de ditadura porque todas elas têm um fundo idêntico, quer sejam militares, de direita, de esquerda, do proletariado, religiosas ou de qualquer elite iluminada. Não sei bem o que sou, uma vez que não me revejo em nenhum partido político, na sua dinâmica própria, mesquinha, pequena, comprometida, egoísta e, quantas vezes, corrupta.
Nesta altura, os desafortunados que possam estar a ler-me, talvez perguntem, o que é este gaijo afinal? A resposta é simples, não sei, talvez nunca venha a saber, se soubesse, já estaria algures, a fazer outra coisa qualquer. Se calhar do que gosto mesmo é de estar aqui,a falar do que poderia ser. Do que não gosto é de rótulos mas talvez possa definir-me como algo que não existe, uma espécie de socialista utópico, que não gosta de partidos políticos, democrata, pacífico, ecologista, amante do mar, de barcos à vela, da natureza, de crianças, dos animais, do respeito incondicional entre as pessoas, da música, de cinema, de livros, da boa e verdadeira amizade, do amor, que é uma espécie de amizade diferente, de sexo com amor e sem amor, em determinados momentos e fases da vida. Talvez possam dizer-me , afinal és igual a mim, também gosto disso tudo, apenas enjoo em barcos. Pode ser mas a diferença é que eu vivo, tanto quanto consigo, de acordo com aquilo em que acredito. E não é o que vejo à minha volta. E sim, como já devem ter percebido, considero-me uma pessoa de esquerda, na medida em que aceitaria perfeitamente viver numa sociedade muito solidária, justa e equilibrada, em que parte da minha liberdade individual e prazer pessoal fossem sacrificados em prol do bem comum. Desde que esteja muito bem definido o que isso significa. O que quer dizer ter objetivos, um rumo, uma crença, uma ideia de progresso, não apenas material (odiaria ir ao dentista no século XIX) mas sobretudo cultural, espiritual e ético.