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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

BAGA NOBEL DO COCÓ (BB164)

Fevereiro 17, 2025

Tarcísio Pacheco

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imagem em: The New Humanitarian | Parlons de caca

BAGAS DE BELADONA (164)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA NOBEL DO COCÓ - Confesso publicamente que não sou nenhum anjo de luz e nem sou digno sequer de lavar os pés a Ghandi. Piorei, baixei de nível, já fui extremamente pacífico, daqueles militantes de qualquer causa que julgava nobre, dos que usavam crachás contra a energia nuclear. Isso foi quando andava alienado e iludido. Ainda antes dos astrónomos nos terem alertado para o asteroide que pode atingir a Terra em 2032, já eu sonhava maldosamente com a chegada de um asteroide de tamanho apropriado que levasse a cabo uma boa higienização do planeta. Poupando os Açores, a Madeira e Portugal Continental no impacto direto, claro, no fundo ainda sou um bocado sentimental e tenho quatro filhos que andam por aí. Quando pensava no assunto e sonhava com o impacto, costumava desejar que a rocha justiceira caísse em cheio na Rússia ou na Coreia do Norte ou no Irão ou na China, por esta ordem. Volúvel que sou, ultimamente tenho estado a mudar de opinião. Efetivamente, com certos amigos, quem precisa de inimigos? Os pais de toda a gente sempre disseram “cuidado com as más companhias”, o que era um bom conselho, exceto nos casos em que os próprios pais eram a pior companhia.

Ontem à noite, adormeci a pensar no adjetivo que melhor define o caráter de Donald, o Fungo. Tive dificuldades em adormecer porque é difícil adjetivar o que não existe. Contudo, como precisava de dormir, acabei por negociar um adjetivo comigo mesmo: pérfido! O dicionário define “perfídia” como um substantivo feminino que se refere à traição, deslealdade ou engano. É utilizada para descrever ações que envolvem a quebra de confiança, onde uma pessoa age de maneira desonesta ou traiçoeira, muitas vezes com a intenção de causar dano a outra. É claro que qualquer dicionário de nomes feios se aplica na quase totalidade a Trump. Mas se tiver de escolher um adjetivo, é este, pérfido. Todos conhecem o mito do rei Midas, que transformava em ouro tudo em que tocava, poder que ilustra a vã ilusão humana e se revelou muito pouco desejável na prática. Trump também é um rei, que quer ser imperador e tudo em que ele se toca também se transforma, mas em cocó. Trump conquistou o trono americano acabando com qualquer conceito de democracia e sábio equilíbrio entre poderes. Usou aplicativos simples, mas eficazes, sobretudo a falta de inteligência e de espírito crítico do povo americano, a ignorância, a mentira e a manipulação. Mal chegou à sala do trono, abriu de par em par as portas das prisões, dos esgotos e das mais lúgubres e sinistras caves subterrâneas de toda a América. Qual Satanás à porta do Inferno, abriu os braços, soprou para o lado a gadelha cheia de laca para disfarçar a calvície incipiente e disse “Vinde meus filhos, eu amo-vos!”, todo feliz, com as pregas de gordura do pescoço a tremelicar de pérfido gozo. E eles vieram, toda a ralé da América, vieram políticos oportunistas, todos os muitos políticos americanos sem ética nem escrúpulos, os republicanos ortodoxos, vieram filósofos e teóricos de extrema-direita, vieram pró-fascistas e neonazis, vieram racistas, criminosos e ladrões, vieram radicais bíblicos e outros fanáticos religiosos, vieram os fabricantes de armas e de material militar,  vieram paletes de louras e morenas burras ambiciosas, vieram as toupeiras cegas da terra atrás do petróleo, do gás natural e do carvão, vieram os negacionistas das alterações climáticas,  vieram negacionistas de vacinas e de cuidados médicos modernos, vieram prostitutas e prostitutos, veio toda a sorte de estúpidos, ignorantes, analfabetos funcionais e descerebrados, entre os quais se contam, para grande desgosto meu, imensos imigrantes portugueses  e açorianos.

Tudo em que Trump toca se torna em cocó. Trump, embora se considere um grande estratega, não tem quaisquer planos para nada e isso porque se trata de uma pessoa pouco inteligente. Já me cansaram os comentadores televisivos que se esforçam por “entender e explicar Trump”, que se tem alguma qualidade é a de ser um bom manipulador e, mesmo assim, isso só funciona com pessoas ignorantes e carecidas de inteligência. Trump jamais conseguiria manipular pessoas inteligentes e alguma dessas (que também as há por lá, no meio daquela manada acéfala) seguem-no apenas por pura ambição e conveniência, cavalgando a onda do momento que, inevitavelmente, quando a maré de estupidez passar, os arrojará à praia, bastante combalidos, segundo espero, sendo que nada se perde se alguns se afogarem, entretanto. Sejamos claros, Trump só convence alguns tipos de pessoas, que já descrevi acima. Infelizmente, eles são imensos, num país como os EUA. Seria absolutamente impossível Trump convencer qualquer uma das pessoas que considero inteligentes, em Portugal e no resto do mundo.

Trump até tem ideias, a um ritmo quase diário, o problema é que são invariavelmente péssimas e/ou pérfidas, saídas da cloaca que ele tem no lugar do cérebro. Deixando de lado as tarifas alfandegárias, que é uma questão mais economicista, temos a alteração do nome do golfo do México, a ameaça de anexação do canal do Panamá e da Gronelândia, as ameaças à integridade política e territorial do Canadá, a saída da OMS, as medidas contra o ambiente e a negação das alterações climáticas, as inúmeras medidas contra apoios sociais federais e internacionais, as medidas contra a comunidade LGBT e as pessoas com deficiências e o profundo desprezo mostrado todos os dias pelos seus “aliados” da União Europeia, isto para referir apenas as coisas mais notórias. Mais recentemente, o cúmulo da perfídia e da falta de caráter, com a questão da faixa de Gaza e do destino a dar à população palestiniana da zona. Trata-se da oferta aos amigos e colegas de extrema-direita de Israel, de Gaza e provavelmente da Cisjordânia, algo que, a concretizar-se, por omissão do resto do mundo, com destaque para a EU e países árabes, deveria colocar Trump na mira do Tribunal Penal Internacional, valendo isso o que vale atualmente. O clímax da perfídia e traição acabou de acontecer com as notícias sobre “o acordo” para o fim da guerra na Ucrânia. Não há acordo algum que, aliás, a acontecer, teria de envolver como parceiros de primeira linha, Zelensky e a EU. O que parece haver é o início de uma bela amizade entre pares, Trump e Putin, ambos igualmente tiranetes pérfidos, em que a Ucrânia é oferecida como despojo de guerra e o mundo é partilhado entre EUA, Federação Russa e China. No âmbito deste “plano”, a Rússia conquista todos os seus objetivos, não cede rigorosamente em nada e a Ucrânia perde todos os seus territórios roubados e não pode entrar para a NATO, nem recebe qualquer garantia de segurança. O seu único “benefício” é poder, eventualmente, ser admitida na EU, uma entidade que Trump e Putin desprezam abertamente. Perante o aviso de agências especializadas de que a Rússia atacará de novo, mais ano menos ano, o pérfido Trump encolhe os ombros, como quem diz “e isso é problema meu?”.

Cada vez mais, a nossa EU se perfila como o único garante de estabilidade no mundo, na defesa da paz, da ordem, da legalidade, do direito internacional, do respeito pela integridade territorial dos diversos países, da coexistência pacífica entre “fortes” e “fracos”. Que seja a EU possível, perante as ameaças da extrema-direita, dos pró-fascistas, dos neonazis. É o nosso tempo de nos assumirmos ou desapareceremos do mapa. Nunca gostei tanto da EU. Minha querida União Europeia, meu querido Costa.

Quanto a Trump, o Nobel da Paz deverá fora de questão, os suecos são inteligentes, mas, se a academia sueca decidir criar um novo prémio, Trump não terá concorrência e ganhará com todo o mérito e justiça o Nobel do Cocó. popeye9700@yahoo.com

 

 

BAGA AMÉRICA ZOMBIE (BB163)

Fevereiro 07, 2025

Tarcísio Pacheco

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BAGAS DE BELADONA (163)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA AMÉRICA ZOMBIE–. Recentemente, assisti a um programa na TV protagonizado por cientistas e especialistas do comportamento animal. Foi um documentário extenso, com análises profundas e sustentadas de muitos casos de claro comportamento homossexual entre animais do mesmo género, com destaque para primatas e cães, por exemplo. Uma das conclusões finais foi de que o comportamento animal homossexual foi observado em cerca de 1.500 espécies animais, um vasto número. Foram analisados diversos casos específicos. Um deles consistia num caso absolutamente revoltante. Num canil, estava um belíssimo cão jovem, de raça, que havia sido ali deixado pelo seu dono, com a finalidade de ser abatido. Estava irremediavelmente doente ou tinha atacado alguém? Nada disso, a justificação do dono era a seguinte: o meu cão é gay, “apanhei-o” a montar outro cão macho. Esta triste história tem um final feliz, o pobre cão foi salvo duma condenação à morte digna do Irão por uma moça inteligente e compassiva, que o levou para casa. Onde aconteceu isto? Claro que podia ter acontecido em qualquer lugar, afinal, energúmenos estúpidos, há-os em todo o mundo. Mas, como se está mesmo a adivinhar, este caso sucedeu nos Estados Unidos da América.

E esta história traz-me ao tema principal. Fiquei chocado, mas não exatamente surpreendido com a emergência de um vilão tão óbvio como o Donaldo. Afinal, a escalada dele pela pirâmide do poder acima não foi assim tão rápida e as evidências foram-se acumulando ao longo dos anos. A minha falta de surpresa não foi pelo vilão em si, afinal eles estão um pouco por todo o lado neste pobre planeta e apareceram regularmente ao longo da história humana. O facto é que sempre fui extremamente crítico em relação aos EUA e não, não sou comunista. Visitei os EUA e visitaria de novo sobretudo pela diversidade da paisagem e pela riqueza da sua natureza. Mas jamais viveria nesse país. Sempre me senti açoriano, primeiro que tudo e depois português e europeu até à medula. E isto é, sim, um autoelogio.

Com efeito, sempre senti que há algo de extremamente doentio e profundamente errado com a sociedade norte-americana. Num país com cerca de 331 milhões e 500 mil habitantes, só atrás da China e da Índia, que se define como uma democracia plena com eleições regulares, na verdade autodenominando-se “a maior e melhor democracia do mundo”,  não há espírito crítico, não há confronto de ideias, não há dissidência nem dissonância, não há combate político e ideológico, não existe a maravilhosa diferença entre as pessoas e até os americanos de origem africana, asiática, latina ou árabe, rápida e pressurosamente se inscrevem na matriz norte-americana, muitas vezes ainda na primeira geração. Que haja não brancos a votar no Donaldo e aos pulos nos comícios dele, com o ridículo bonezinho vermelho, é algo que ultrapassa a minha compreensão. Sabemos que há pessoas muito inteligentes na sociedade americana, na ciência, na cultura, nas artes, na tecnologia, mas, até mesmo os insuspeitos cientistas sacrificam a sua inteligência no altar da conveniência política e da sobrevivência pessoal. Basta ver como a comunidade científica americana começou a fechar-se quanto às alterações climáticas e a tentar afinar pelo diapasão dominante. Está toda a gente com medo de ser despedida, de perder o cargo ou o subsídio.  Em breve estarão os EUA a afirmar como um todo que não há alterações climáticas e que as vacinas provocam autismo. “God save America but, meanwhile, Drill Baby Drill”. O Donaldo já mostrou claramente que pretende dominar todo o país, começando pelos aparelhos político e judicial, passando pelo Pentágono, por todo o funcionalismo público e pelas agências governamentais, incluindo a CIA, o FBI e a NSA; há mesmo sinais de que pretende dominar a igreja, o que não surpreende, dada a sua intimidade com as altas esferas celestes; durante a campanha eleitoral vi uma publicação em que um Donaldo em pleno sermão aos seus fiéis era retratado com um belíssimo anjo com o braço por cima dos seus ombros; e outra em que o Donaldo se passeava por um jardim em amena cavaqueira e de braço dado com Jesus, provavelmente a debater a próxima manobra da “paz pela força”. Em breve pouco restará do indómito espírito pioneiro norte-americano que, mesmo tendo levado ao massacre dos primitivos donos da terra, não deixou de ser indómito e de se constituir em epopeia. Em breve, como mudou o nome do Golfo do México (claro que para mim jamais mudará) o novo marajá vai mudar o nome do país para Estados Unidos do Donaldo. E até vai conseguir inscrever isso na constituição. A menos que algum americano com a mistura suficiente de engenho, loucura, coragem e boa pontaria tome uma atitude histórica para os EUA e para o mundo.  OS EUA estão no caminho certo para, a breve trecho, se assumirem plenamente como algo que na verdade sempre foram em certa medida, o paraíso da banalidade, do convencionalismo, da hipocrisia moral e política e do dogma religioso, tendo como ferramentas principais, a força bruta, o poder absoluto, a intimidação, a chantagem, a mentira, a manipulação e o medo, regados a Coca-cola light.

Portanto, o que é realmente incrível não é que os EUA tenham produzido o Donaldo. O sistema deles favorece o aparecimento de patifes deste quilate. Do meu humilde ponto de vista, o Donaldo é um perfeito crápula, um demente perigoso, com ideias próximas da ideologia fascista, que jamais deveria estar à frente de nada, exceto das suas próprias empresas privadas, bastante mal geridas e, aliás, sobre as quais recaem suspeitas (a acusação não é minha, vem de fontes pouco políticas e assenta em fortes indícios) de terem sido salvas da bancarrota a certa altura, por abundantes injeções de dinheiro russo. Daí toda a condescendência do Donaldo com o Vladimiro, para além da admiração pessoal entre pares. Eu não o queria nem para presidente do clube de xadrez da minha freguesia. O Donaldo deveria estar na prisão ou pior.  Além disso, ao contrário do que alguns comentam por aí, o Donaldo não me parece muito inteligente. Basta estar com um pouco de atenção, ver como ele funciona e percebemos que ele é perfeitamente previsível. As aspirações que expressa são verdadeiras e mostram bem a sua baixeza de caráter. Como ele tem a esperteza suficiente para perceber que a sua pior retórica suscitaria forte oposição, dos mais variados quadrantes, opta por a anunciar ao mundo mesmo assim, sem qualquer enfeite. Mesmo antes de tomar posse já teve ataques de flatulência intestinal pela boca. Imediatamente após tomar posse, anunciou ao mundo o que realmente gostaria de fazer, mas sabe ser impossível. Será das raras vezes que diz a verdade. Fazem parte desse filme, por exemplo, o canal do Panamá, a Gronelândia, o Canadá, a faixa de Gaza e o plano de mudar a constituição para conseguir um terceiro mandato e, quem sabe, um quarto. O Donaldo queria mesmo ficar com isto tudo, se o deixassem. As pessoas normais assustam-se e reagem. Quando esbarra com forte oposição, recua um pouco, finge saber refletir ou manda os seus esbirros recuarem por ele. E talvez consiga assim concessões que jamais conseguiria de outro modo. É assim que funciona o Donaldo, com arrogância, agressividade, intimidação e abuso. Ele tem um ego extremamente inflacionado e julga-se uma das criaturas mais inteligentes que já pisaram a Terra. Deve achar-se um grande jogador de golfe e de poker. Por isso, usa e abusa do bluff. Qualquer pessoa minimamente inteligente percebe que qualquer ato expansionista agressivo do Donaldo significaria quase de imediato o fim de Taiwan. E mesmo que o Donaldo pouco se importe com Taiwan, teria aberto a caixa de Pandora, que jamais conseguiria voltar a fechar. Donaldo é fundamentalmente estúpido e destituído do mais elementar bom senso. Mas não é tão estúpido que não entenda o óbvio. O que nunca é estúpido é a História, que analisa, avalia, julga e explica o passado, à distância. E não tenho a menor dúvida de que, se o mundo sobreviver a psicopatas como Donaldo, Vladimiro e outros do mesmo clube, a História considerará Donaldo, de muito longe, o pior presidente de sempre dos EUA e quiçá do mundo.

Portanto, e para concluir, Donaldo não é surpresa. Surpresa será talvez ter escravizado o partido republicano e ter seduzido tantos milhões de americanos. Mas não fez Hitler o mesmo na década de 30 do séc. XX com uma nação se calhar muito mais civilizada que os atuais EUA e onde havia muito mais inteligência per capita? Será a estupidez viral e contagiosa? Se calhar é isso que é o Donaldo é, um daqueles fungos recém-descobertos que se apoderam das mentes de alguns insetos e os transformam em zombies. É isso que me parecem os EUA de hoje. Uma nação gravemente doente, infestada por um fungo parasita, grande, gordo, nefasto, malévolo, vagamente alaranjado e com uma coroa vermelho tóxico por cima. Uma grande nação zombie.popeye9700@yahoo.com

 

BAGA I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 3 e último ) BAGAS DE BELADONA (162)

Janeiro 15, 2025

Tarcísio Pacheco

 

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imagem em: Luis Ordóñez, o argentino que conseguiu levar a caricatura ao Museu do Louvre – Diario de Cultura

BAGAS DE BELADONA (162)

HELIODORO TARCÍSIO          

 

BAGA I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 3 e último) – Esta saga da crítica aos escritos do Dr. Bettencourt vai terminar por aqui, para não aborrecer os leitores e também porque rapidamente se desatualiza, dada a velocidade com que eventos relacionados vão ocorrendo. A verdade é que Trump ainda nem foi empossado no dia em que escrevo e, para além de toda a mediocridade maldosa que já lhe conhecíamos, começa a revelar-se uma espécie de ditador imperialista, apenas muito levemente contido pela cada vez mais frágil democracia norte-americana. Ignoramos se o Dr. Bettencourt continua a adorá-lo, mas, como o próprio caridoso doutor nos diz, “toda a gente tem defeitos” e se ele gosta de neofascistas, bom, de um ponto de vista tolerante, isso pode ser, eventualmente, considerado mais que uma crença cega, um enorme defeito de caráter ou então, simples falta de inteligência. Restará saber se o que ainda resta de espírito democrático, senso de justiça e elementar bom senso na América, será suficiente para travar minimamente um ditador neofascista, apenas um pouco menos mau que Vladimir Putin.

Quanto ao bom Dr. Bettencourt, uma leitura apressada ou mais parcial do seu testamento trumpista, até pode dar a falsa impressão de que ele sabe do que fala. Lá diz o velho ditado, muito português, “um tolo que não fala [ou não escreve] passa por discreto”. No entanto, basta ler o texto dele com atenção para perceber as suas manobras maliciosas e mal-intencionadas ou então a sua ingénua ignorância, o chapéu que melhor lhe servir.

Grande parte da verborreia do Dr. Bettencourt assenta nas teses publicadas por um tal Marc A. Thiessen, em “8 Escolhas dos Democratas que ajudaram Trump a ser eleito”, num jornal “esquerdista”, o Mercury News, de San Jose, na Califórnia. Já sabemos que a extrema-direita americana classifica a maior parte dos media como sendo “de esquerda”, preferindo disseminar o seu veneno pelas redes sociais, sobretudo pela X, propriedade do neofascista, Elon Musk, cada vez mais o “dono daquilo tudo”. E percebemos que no caso pessoal do Dr. Bettencourt, a sua bitola pessoal é se o órgão dos media gosta ou não de Trump. É desta forma que ele classifica os media, o que me parece ser de um atroz primarismo intelectual. É verdade que a maioria dos media americanos não gosta de Trump. Mas não gosta por não ser de extrema-direita e não por ser “de esquerda”.  O espectro político partidário nos EUA é extremamente pobre e, para efeitos práticos, conta apenas com dois partidos, o Democrata e o Republicano. O Republicano assenta em valores claramente considerados “de direita” e o Democrata também é de direita ou de centro-direita, se quisermos, estando mais próximo das sociais-democracias europeias. É um partido mais preocupado com questões sociais e de cidadania, mais tolerante, progressista e mais universalista. Contudo, de esquerda política, tal como a entendemos no resto do mundo, tem pouco ou nada. Por exemplo, comparando com Portugal, estão muito longe do Partido Socialista e anos-luz do Bloco de Esquerda. Por isso, classificar media dos EUA como sendo “de esquerda” é coisa de néscio ignorante ou de extremista de direita. Mesmo assim, se formos analisar o Mercury News, percebemos facilmente que é um jornal comum, não tem nada de especial, informa com aparente isenção, que é como deve ser e publica artigos de tendências diversas dos seus editores e colaboradores. Vou dar um exemplo concreto e bem presente nos media de todo o mundo nos últimos dias, o drama em curso no momento, dos incêndios na Califórnia. O Mercury News, obviamente, tem publicado imenso sobre o assunto, basicamente numa dinâmica de informação. Onde é que o Dr. Bettencourt deve estar a ver “esquerdismo” neste caso? Provavelmente no facto de uma das notícias publicadas se referir às declarações de Trump, insultando o governador da Califórnia e apelidando-o de incompetente. Ora, o governador da Califórnia é Gavin Newsome, do Partido Democrata e conta com uma brilhante carreira política. Tenho acompanhado a tragédia e Newsome não me parece nada incompetente, pelo contrário, talvez algo impotente perante a fúria da Natureza, aliada à construção civil selvagem e descontrolada, que é culpa do capitalismo desenfreado e da ganância que lhe está associada. E Trump insulta o governador por ser democrata, acima de tudo e porque, como hiena que é, não pode deixar de aproveitar qualquer oportunidade, seja qual for para mostrar os dentes e morder os seus adversários. Além disso, ele odeia a Califórnia, um estado onde tem poucos apoiantes e que fica fora da faixa do milho, do cinturão bíblico e do Sul, ignorante, pobre, conservador, fanático e racista. O Mercury News também noticia o que tem transpirado de Washington DC, que há sinais de que Trump, depois de eleito, não disponibilizará fundos federais de auxílio às vítimas da Califórnia ou dificultará o acesso aos mesmos. Ora, sabemos todos que Trump é mau, vingativo e não tem qualquer ética nem senso de estado. Portanto, não é nada difícil acreditar nisto. O que é o Dr. Bettencourt acharia que o Mercury News deveria fazer para não ser “de esquerda”? Provavelmente, deveria omitir qualquer referência às más intenções de Trump e realçar o mais possível as acusações de “incompetência” do governador, em vez de informar a população sobre a tragédia que está a desenrolar-se. É essa a pobre bitola do Dr. Bettencourt.

Portanto, a jogada “inteligente” do Dr. Bettencourt, neste caso, é a tese de que até um jornal de “esquerda” publica artigos que mostram os muitos erros dos Democratas. Acontece que a melhor prova de que o Mercury News não é um jornal “de esquerda” é terem publicado um extenso artigo de Marc A. Thiessen. Ora, vejamos quem é este sujeito: Thiessen é um autor norte-americano conservador, politicamente envolvido e membro do Partido Republicano, que andou pela Casa Branca e escrevia os discursos de George W. Bush. Posteriormente, por exemplo, elogiava a tenebrosa CIA e atacava Barack Obama, enquanto defendia a tortura pela água, muito comum, em suspeitos de terrorismo islâmico em Guantánamo. Um tipo isento e um verdadeiro escuteiro, certo? A publicação de um artigo deste tipo, a criticar o Partido Democrata, vem provar que o Mercury News não é um jornal “de esquerda” ou que, no mínimo, dá espaço a todas as tendências ideológicas. E é assim que o Dr. Bettencourt achou que ia enganar o pessoal cá pelos Açores. Todos os dados estatísticos ou percentuais apresentados pelo Dr. Bettencourt são contestáveis ou discutíveis. Por exemplo, é absolutamente parcial referir que a inflação nos EUA subiu durante o mandato Biden-Harris, sem escalpelizar os motivos para isso. Seria fastidioso estar a fazer isso caso a caso, teria de escrever artigos tão longos e sonoríferos quanto o artigo dele e, provavelmente, ninguém me iria ler.

Para terminar, alguns comentários do Dr. Bettencourt que achei dos mais aparvalhados foram os que afirmavam ser o Partido Democrata o “Partido dos Pobres”, que “os democratas radicais gostam mais de gastar o dinheiro dos outros” e que “os republicanos contribuem mais e têm mais compaixão pelos pobres”. É incrível, mas o Dr. Bettencourt parece não saber nada de História. Os regimes que assentavam no enriquecimento de uma pequena fação elitista que depois partilharia teoricamente a sua prosperidade com os menos afortunados através da “caridade cristã” acabou no séc. XVIII, com a Revolução Francesa. E aí foram plantadas as sementes dos atuais regimes socialistas e sociais-democratas em que os regimes se preocupam em distribuir equitativamente os recursos, dar as mesmas oportunidades a toda a gente e garantir que todos tenham uma vida digna e as suas necessidades básicas satisfeitas. É o dinheiro de todos para todos, não é o “dinheiro dos outros”. Solidariedade social não tem nada a ver com compaixão e menos ainda com caridade. Vá-se cultivar Dr. Bettencourt. E de caminho, esclareça-nos se concorda com a anexação militar e violenta da Gronelândia, com a hipotética anexação militar e violenta dos Açores, como valiosa posição geoestratégica, se concorda com as ameaças ao vizinho e aliado Canadá e ao Panamá, países soberanos, se concorda com o uso do exército para expulsar imigrantes, se concorda com o fim do direito internacional e com o regresso ao barbarismo do direito do mais forte, se alinha na negação das alterações climáticas induzidas pelos seres humanos e na negação das vacinas e finalmente se concorda com “a paz”na Ucrânia, com grande prejuízo do invadido e à custa do benefício de um invasor selvagem e criminoso de guerra. Diga-nos se também admira ditadores que são “líderes fortes”. É que tudo isto e muito mais é Trump e o senhor adora-o. Mais uma vez, só para sabermos com quem lidamos…para percebermos se é néscio, ingénuo, ignorante, extremista de direita ou neofascista. Porque um destes carapuços vai assentar-lhe na perfeição. popeye9700@yahoo.com

 

BAGA I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 2) BAGAS DE BELADONA (161)

Janeiro 13, 2025

Tarcísio Pacheco

 

 

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imagem em: Luis Ordóñez, o argentino que conseguiu levar a caricatura ao Museu do Louvre – Diario de Cultura

 

BAGAS DE BELADONA (161)

HELIODORO TARCÍSIO          

 

BAGA I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 2)  - Ora, prosseguimos então com o contraditório ao Dr. Bettencourt, emigrante graciosense, ilustre dentista na Califórnia e admirador incondicional de Donald Trump. Esclareça-se que se o Dr. Bettencourt se tivesse limitado a dar a sua opinião sobre Trump, nada teria a dizer, pelo menos publicamente. Ele há gostos para tudo. A Betty Grafstein gostava do José Castelo-Branco. O que realmente me desencadeou um prurido no sistema nervoso central foi o facto do Dr. Bettencourt nos atirar com uma carga brutal das mentiras e falsidades inventadas por Trump, pelos seus apoiantes e pelos hackers russos ou pró-russos, seus parceiros. Aparentemente, o Dr. Bettencourt acha que os açorianos ainda vivem no ambiente de ignorância, incultura e simplicidade de espírito da Graciosa da sua infância. O tempo também passou por aqui e não apenas pela soalheira Califórnia. O Dr. Bettencourt parece achar que somos todos burros nos Açores. Mas lembro-lhe que a ilha Graciosa, sobretudo a do seu tempo, era o grande centro açoriano de produção e exportação de burros. Agora, há menos burrinhos, é certo, mas espalham-se pelas ilhas todas.

Ah, e há também o facto de eu considerar Trump uma criatura absolutamente detestável e um dispensável malefício, para os EUA e para o mundo. Como numa conhecida anedota, Trump é seguramente mais de 100 kg de gordura perniciosa e mórbida, formada à base de cheeseburgers e coca-cola light, que produzem flatulência pestífera, inflamação intelectual e incontinência verbal.

Prosseguindo, como não há esquerda política nos EUA, só há direita, mais liberal ou mais conservadora, não faz sentido dizer que a maior parte dos media americanos é “de esquerda”. E o Dr. Bettencourt diz isto como se ser “de esquerda”, da verdadeira e não da que fica ligeiramente à esquerda da direita, fosse uma espécie de anátema, o que é, no mínimo, anacrónico, no mundo de hoje. Ser de esquerda, nas democracias evoluídas é simplesmente pensar de maneira diferente e preferir um determinado tipo de organização social, alternativo, que não é o habitualmente o da direita. Mas o Dr. Bettencourt e o seu ídolo, Dr. Trump, usam o esquerdismo político como insulto. Todos vimos, durante a campanha eleitoral, em direto na TV, o futuro líder máximo dos EUA apelidar Kamala Harris de preta, burra, ignorante e...”comunista”. Diga-nos, Dr. Bettencourt, já que admira tanto o seu ídolo, se é tão mal-educado, arrogante, racista e bruto quanto ele? Só para sabermos com quem lidamos e se calhar, evitarmos a sua cadeira de dentista, não vá anestesiar-nos a boca com um “fake shot”. O Dr. Bettencourt diz que nos EUA os media são quase todos de esquerda. Isso não faz qualquer sentido. Eu sou de esquerda, mas sou democrata primeiro que tudo e defendo uma comunicação social livre, isenta e plural. Essa é a única que importa, a verdadeiramente livre que, tendo em conta o livre direito de expressão, constitucionalmente consagrado, pode adotar as tendências que quiser e escrever ou transmitir notícias e programas de informação e atualidade com o formato que preferir. O confronto de ideias é sempre salutar. O que é que não pode? Não pode escrever ou transmitir mentiras ou falsidades. Porque aí deixa de ser comunicação social, para ser entidade política e panfletária, com um determinado alinhamento e protagonista de um determinado processo político, com objetivos maliciosos definidos. Um órgão de comunicação social que publique mentiras (propositadamente ou por não se ter assegurado da verdade, primeiro, como seria sua obrigação) deixa de ser comunicação social, passa a ser outra coisa qualquer, provavelmente obscura. Todos os ditadores temem a comunicação social livre. No Irão, na China e na Coreia do Norte, ela, pura e simplesmente, não existe. Não há liberdade de expressão nestas ferozes ditaduras. Na Rússia, apenas existe teoricamente, uma vez que a Rússia atual é na verdade uma ditadura centrada no antigo KGB e uma das primeiras coisas de que o seu ditador, Putin, tratou, quando chegou ao poder, foi de esmagar a comunicação social livre. E nos EUA, o regime atual, que é o de uma democracia que sempre foi altamente criticável, mas que se mostra cada vez mais pobre, com total concentração de poder, demoniza a maior parte da comunicação social, rotulando-a “de esquerda”, o que é um insulto pesado no paupérrimo espectro político-partidário dos EUA. E transfere-se a comunicação para as redes sociais, onde a desregulação e a desresponsabilização são totais. Agora, tudo é possível e as portas do Inferno mal se abriram; Zuckenberg, colocando-se obedientemente na fila da gamela para comer, veio dizer que já não é preciso verificar factos no Facebook, para não agredir a “liberdade de expressão”. Devia querer dizer “liberdade de mentir”. Putin deve estar a esfregar as mãos de contente, uma vez que agora vale mesmo tudo nas redes sociais.

A verdade é que, como é natural, nos media americanos e um pouco por toda a parte, há muita inteligência e espírito crítico. É na cultura, nas artes, no cinema, na literatura e no mundo da informação, que encontramos as pessoas mais inteligentes das sociedades.  É por isso que Trump, um pseudolíder que se promove através da estupidez, da incultura e da ignorância, odeia Hollywood, por exemplo.  Por norma, por vocação, por formação e pela natural filtragem sócio académica, os jornalistas são inteligentes, críticos e excelentes analistas da realidade social e da sua evolução. Algumas das pessoas que considero mais inteligentes em Portugal, ou são jornalistas ou têm presença assídua nos media, em programas de grande informação. Posso até nem gostar de algumas das pessoas que vou nomear, mas considero-as muito inteligentes: Miguel Sousa Tavares, Ricardo Araújo Pereira, José Rodrigues dos Santos, Pacheco Pereira (dos poucos inteletuais de direita cuja inteligência admiro), Daniel Oliveira, Clara Ferreira Alves, Raquel Varela, Rogério Alves ou Osvaldo Cabral, nos Açores, para referir apenas alguns e dentre os viventes. Grande parte dos media americanos não gosta de Trump e é fundamentalmente por isso que o Dr. Bettencourt diz que eles são “de esquerda”. Na verdade, as razões para os media americanos não gostarem de Trump tem menos a ver com posições políticas, muito menos de uma esquerda inexistente na América e prendem-se sobretudo com o perfil de Trump, um indivíduo execrável, estúpido, ignorante, um falso líder e sobretudo, um dos maiores mentirosos da História.  O que nos leva às “Fake News”.

A expressão “Fake News” surgiu precisamente na 1.ª presidência de Trump e, de alguma forma, foi cunhada por ele e usada exaustivamente. O que não deixa de ser paradoxal e profundamente cómico, na medida em que Trump é uma espécie de campeão mundial das “Fake News”. Que o Dr. Bettencourt use esta expressão referindo-se aos media “de esquerda” é da gente se urinar todos pelas pernas abaixo de tanto rir.  Trump é um mentiroso patológico e usa a desinformação como arma política de eleição. Esta é uma tática bem conhecida e usada por muitos governantes e ditadores há muito tempo, ao longo da História. Sucede que no passado, era quase impossível desmentir as inverdades. Mas, na atualidade, as mentiras são denunciadas quase em simultâneo, por exemplo, pela comunicação social livre e isenta, que, obviamente, não deve deixar passar mentiras para o público. Exemplo: sistematicamente, qualquer referência a uma das muitas acusações de conduta ilegal e criminosa de Trump era e é rotulada de “fake news”. Mas, quando Trump proferiu em direto na TV uma das suas mais recentes grandes mentiras, que imigrantes haitianos nos EUA andavam a matar e a comer animais de estimação, essa afirmação, apesar de quase imediatamente desmentida por insuspeitas autoridades locais, continuou a ser usada pelos MAGA na persecução dos seus objetivos. Foi uma mentira que causou dano e sofrimento a pessoas inocentes e alimentou muitas injustiças e nunca foi reconhecida ou negada por Trump. Esse tipo de mentiras é de uma virulência feroz. E não é preciso fazer nada de especial, apenas atirar a mentira para o ar e depois, já é tarde mais, sabemos como é, o megafone MAGA pega naquilo, os imigrantes haitianos são uns “selvagens canibais” e os imigrantes ilegais em geral, são os responsáveis pela maioria dos problemas da América, rua com eles, usem o Exército se for preciso.  A impunidade de Trump é total atualmente. A própria criatura disse algo como, “eu posso apalpar qualquer mulher ou matar alguém na rua, vão sempre gostar de mim”. Diga-nos, Dr. Bettencourt, Trump é conhecido por gostar de apalpar mulheres e gabar-se disso; que faria se Trump apalpasse alguma mulher da sua família? O seu amor pela criatura é mesmo incondicional? E antes de responder, lembre-se que qualquer mulher pertence a uma família e é filha de alguém. Qualquer afirmação ou notícia incómoda para Trump é rotulada de “fake news” com origem nos media “de esquerda” enquanto para a legião “trumpista”, qualquer mentira da criatura, das muitos a concurso, é imediatamente branqueada, sem contraditório ou então rapidamente esquecida, se insustentável. E é esta a bolha em que vivem o Dr. Trump e o Dr. Bettencourt.

Talvez fique hoje por aqui. Tenho a sensação de que vou passar o ano de 2025 a escrever para o Dr. Bettencourt. É que o testamento dele a favor de Trump é tão absurdo e tão falso que a ando a relê-lo para o criticar, desde 27 de dezembro e a toliçada é tanta e tão motivadora que, num total de quatro páginas e dezasseis colunas, ainda vou a criticar a primeira coluna. Temos serão. Pode ser que me farte. Mas não é hoje ainda.  POPEYE9700@YAHOO.COM

 

 

I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 1) (BB 160)

Janeiro 02, 2025

Tarcísio Pacheco

 

BAGAS DE BELADONA (160)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 1)  - Recentemente, aproveitando o muito generoso e aparentemente ilimitado palco disponibilizado pelo Diário Insular, o Dr. Manuel Bettencourt, ilustre médico dentista da Califórnia e emigrante açoriano da ilha Graciosa, usou quatro páginas completas deste jornal, para publicar um fervoroso auto de amor pelo seu herói, Donald Trump. De quem, ingenuamente, diz que “(…) Ninguém é perfeito neste mundo. O Trump tem os seus defeitos como todos nós”. Claro que qualquer um poderia usar as mesmíssimas palavras para se referir a Joe Biden ou a Kamala Harris (sem o deselegante artigo definido…), que o Dr. Bettencourt demoniza, responsabilizando-os por todos os males de que sofre a América atual. É uma expressão vaga e tonta, que é habitualmente utilizada para desculpar quem queremos inocentar de culpas, incluindo nós próprios. Em última análise é aplicável a qualquer um, incluindo Vladimir Putin.

Sinceramente, nem sei por que ponta pegar no artigo de opinião do Dr. Bettencourt porque todo ele é altamente criticável e repleto de informação deturpada, exagerada ou simplesmente falsa. Precisaria das mesmas quatro páginas que ocupou no DI para um comentário completo e a preceito. E acho que não devo fazer isso, nem o DI, provavelmente, me daria o mesmo palco.

O Dr. Bettencourt não precisava de ter invadido e ocupado o jornal da ilha para nos dizer que é um apoiante indefetível de Trump. Mas invadir e ocupar é o estilo desta gente do MAGA. Sabemos todos que a maioria dos emigrantes açorianos nos EUA, especialmente os de primeira geração, vota em Trump. E também conhecemos as razões para isso. Que não são nada lisonjeiras para a comunidade.  Do Dr. Bettencourt, que andou na faculdade a estudar medicina, esperar-se-ia bastante mais e melhor. No mínimo, que não se limitasse a papaguear as atrocidades néscias e sofismas maliciosos com que Trump, os seus aliados e os hackers russos inundaram as redes sociais. Mas é sobretudo isso que o Dr. Bettencourt fez, espalhando pelo meio, uma caterva de números selecionados criteriosamente para reforçar os seus pobres pontos de vista.

Afirma o Dr. Bettencourt que foi “20 anos do Partido Democrata”, mas que este se radicalizou nos últimos anos, numa deriva para a esquerda. Só a discussão disto já dava uma tese académica. Para se perceber porque é que naquela que costuma ser considerada “a maior democracia do mundo”, o debate político e ideológico é tão pobre que os eleitores se reveem apenas em dois partidos. Não é um regime de partido único, mas é um regime de dois partidos únicos. Como é único o sistema eleitoral norte-americano, que satisfaz os eleitores dos EUA, mas parece ser cada vez mais suspeito e pobre para o resto do mundo livre. Outra coisa que o Dr. Bettencourt não parece compreender é que o que nos EUA passa por ser “mais de esquerda”, para as democracias evoluídas do mundo, é apenas “um pouco menos de direita”, já que sempre imperou no país um absoluto primarismo político-ideológico e um claro alinhamento à direita. Não há esquerda política nos EUA.  Incrivelmente, o que o Dr. Bettencourt mais abomina nos democratas é que se tenham afastado mais ainda do tradicional discurso republicano. O Dr. Bettencourt não parece gostar da diferença e da diversidade de opiniões, ele é todo pelas ovelhinhas brancas. Até porque as ovelhinhas pretas devem ser imigrantes mexicanos, ilegais, claro.

Outra coisa que o Dr. Bettencourt nos diz é que os democratas “(…) são capazes de tudo e mais alguma coisa para se manterem no PODER” (sic). Não me diga, é mesmo assim? Tipo quê, tipo não aceitar resultados de eleições e decisões judiciais legítimas e promover e incentivar a invasão, com destruição, feridos e mortos, da sede de algum órgão de soberania, tipo, o Capitólio? Xiii, realmente, o caso é grave e até já lhe dou alguma razão, que patifes criminosos!

E o Dr. Bettencourt segue por ali abaixo, num ritmo frenético e nauseante, parecendo entender pouco para além das técnicas dentárias. Não entende, por exemplo, que está em curso um ataque feroz e sem precedentes aos regimes democráticos do mundo livre, à união e cooperação entre eles e à sua expressão militar, que é a aliança defensiva da NATO. Este tema é muito bem tratado pelo escritor e jornalista, José Rodrigues dos Santos, no seu livro mais recente, Protocolo Caos. Claro que para a mentalidade básica do Dr. Bettencourt, este insuspeito escritor deve ser “comunista”. Esse ataque é perpetrado sobretudo pela Rússia, mas também pela China, Irão e Coreia do Norte, ou seja, pelas principais ditaduras da atualidade. Alguma vez o Dr. Bettencourt parou para pensar porque é que Trump é o favorito de Putin nos EUA? Nada disto é simples, mas uma das razões é o ataque sistemático de Trump à comunicação social livre e independente, preciosa em democracia, de que o Dr. Bettencourt faz uma obediente e acéfala crítica.   Papagueando Trump, o Dr. Bettencourt acha que a maior parte dos media americanos é mais ou menos “de esquerda”, com a CNN à cabeça e com poucas exceções, entre as quais, se destaca, obviamente, a Fox News, controlada pelos conservadores, de quem Trump disse ser a única estação que diz a verdade. Na Rússia, Putin deu cabo de todos os media independentes, através dos seus métodos usais, assassinato simples à cabeça, mas também encarceramento, encerramentos compulsivos, processos criminais e outros métodos agressivos, restando apenas os órgãos formais, subservientes ou totalmente alinhados. Assim, Putin, evita qualquer crítica ou oposição. Nos EUA, Trump declara a maioria dos media “de esquerda” e mentirosos, ou seja, todos os que ele acha que o prejudicam e estipula que apenas alguns, como a Fox News dizem a verdade. E, para além disso e sobretudo, privilegia as redes sociais como meio principal de comunicação. Toda a gente sabe que o Twitter era o seu principal canal de comunicação com o país e com a sua rede de apoiantes. E depois, como o Twitter, apesar da sua enorme elasticidade, também tinha os seus limites, acaba por formar a sua própria rede social, de onde ninguém o pode expulsar e que ele controla totalmente. E porque é que Putin e Trump fazem ambos a mesma coisa? Porque sabem muito bem que as redes sociais são selvas de onde estão totalmente ausentes quaisquer critérios de ética, verdade, justiça ou deontologia profissional. Nas redes sociais, qualquer um pode vomitar o seu próprio veneno, sem que nada lhe aconteça, pelo menos nos EUA (em Portugal e na CE já não é bem assim por estar criminalizado o incitamento ao ódio e à violência). Por outro lado, nas redes sociais, impera o anonimato cobarde. Além disso, é muito fácil, com as tecnologias atuais e as enormes e bem preparadas redes de hackers, com propósitos muito sombrios, criar perfis falsos e espalhar mentiras e boatos à fartazana. Um método relativamente simples e bem conhecido é, por exemplo, a respeito de uma qualquer das muitas tolices e mentiras que Trump escreve nas redes sociais, colocar uma série de comentários favoráveis com origem em perfis falsos. Isso gera um movimento de bola de neve e a partir de certa altura, começam a aparecer em catadupa os comentários favoráveis de verdadeiros americanos, encorajados pelo que vão lendo. Parece haver um enorme apoio popular a Trump e, às tantas, já há mesmo, o processo nunca mais para, já teve a sua ignição artificial. Obviamente, isso vai ampliando o campo de recrutamento e criando a “aura de Trump” como um grande “patriota”, the man for the job. O propósito de toda esta verdadeira sabotagem é simples e medonho ao mesmo tempo, é semear o caos e a discórdia no Ocidente, é levar a América ao descalabro, é criar fossos e divisões entre a América e a Europa, é desmembrar a aliança atlântica. E assim, Trump, que se julga muito inteligente, vai fazendo, ingenuamente, o jogo de Putin. O movimento do “America First” só aparentemente beneficia os EUA e prejudica muitos outros países, nomeadamente os da CE e o Canadá. Na verdade, qualquer processo isolacionista prejudica toda a gente. Não há ação sem reação, uma das regras mais simples de entender do Universo. Mas Trump não tem faculdades intelectuais, bom senso básico ou perfil de estadista para entender isso.

Para terminar esta parte, vou dar um exemplo de como o arrazoado do Dr. Bettencourt está cheio de patranhas. Diz ele que os media de esquerda “encobriram o problema cognitivo do presidente Joe Biden”. Ora, isso é absolutamente falso. Biden tinha realmente um problema de desempenho mental, causado, muito provavelmente, pela sua avançada idade. Mas, quando esse problema se tornou patente, nomeadamente a respeito do desempenho de Biden no seu último debate com Trump, o facto foi amplamente noticiado, inclusive pela CNN e por muitos outros órgãos, nos EUA e por todo o mundo. Leio notícias todos os dias, na comunicação social, procurando fontes diversificadas e evitando as redes sociais, que uso para outras coisas, nomeadamente para uma socialização saudável. Todos os media falaram nisso, mostrando imagens. Foi mesmo a grande notícia por algum tempo.  Porque era inegável, porque era notícia, porque era informação relevante e porque não havia qualquer motivo para o esconder, pelo contrário.

Para não ocupar demasiado espaço no jornal, ficarei por aqui agora, mas voltarei ao tema. O Dr. Bettencourt merece. Apesar de tudo, desejo-lhe um Feliz Ano Novo, por ser um açoriano. Já a Trump, desejo-lhe um Péssimo Ano Novo. Se bem que ele não precisa dos meus desejos nefastos, ele é bem capaz de tratar disso sozinho, como já se viu, ao criar problemas ainda antes do início do mandato, com vizinhos e amigos como o Canadá, a Dinamarca, o Panamá, toda a Comunidade Europeia e com a NATO.  POPEYE9700@YAHOO.COM

 

 

 

BAGA NOBRE SACRIFÍCIO (BB159)

Outubro 30, 2024

Tarcísio Pacheco

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BAGAS DE BELADONA (159)

HELIODORO TARCÍSIO          

 

BAGA NOBRE SACRIFÍCIO – Ao seguir as notícias da passada semana sobre aquele corajoso agente da lei que, na Cova da Moura, com risco da própria vida e em defesa das famílias portuguesas de bem (de sangue puro lusitano e constituídas por pai, mãe e dois filhos, de preferência um casalinho) pregou três balázios certeiros num mouro altamente suspeito, dei por mim, pela primeira vez na vida, a apoiar o Ventura. Não, não me internem ainda em S. Rafael, eu já explico porquê.

Fiquei particularmente afetado pelas afirmações do próprio Ventura, de que está a ser perseguido e que querem prendê-lo, tentando assim, malevolamente, decapitar a liderança deste PRECIID (Processo Revolucionário em Curso Imparável e de Inspiração Divina), assim chamado para diferenciar do outro de má memória, o PREC dos comunas. Dei comigo a pensar, isto é intolerável, prender um homem destes, um líder das massas, um iluminado, alguém predestinado a mudar o mundo. Ná, é preciso fazer algo de extraordinário e altamente simbólico, que perdure na memória do país para sempre e daí em diante também. Algo que coloque o país nas bocas do mundo, que eclipse até o resultado das eleições norte-americanas. Quiçá, que possa inspirar o próprio Trump…então, resolvi sugerir à liderança do Chega e ao próprio André Ventura, um ato radical e simbólico, o mais nobre sacrifício que um patriota pode fazer, na defesa de um país, da sua gloriosa história, das suas instituições sagradas e dos cidadãos do bem. Trata-se de algo que proporciona até imensa visibilidade, pelo menos depois de se dissipar a fumaça. Com efeito, vou sugerir ao Ventura que se imole pelo fogo em frente à Assembleia da República, como protesto pelo que lhe querem fazer e pelo desrespeito pelos nossos anjos de azul, que não podem dar tiros à vontade e, ainda por cima, ao que dizem, contam nas fileiras com elevada percentagem de apoiantes do Chega. Não vale a pena organizar mais manifestações, isso qualquer um faz, os comunas são peritos nisso. Quer-se ver é quem é que se rega com gasolina e ateia uma bela fogueira em si mesmo, algo muito mais raro entre nós. Além de ser um ato de extrema coragem, transmite uma mensagem decisiva, do género, vejam até que ponto estamos dispostos a ir, para defender a Pátria e as pessoas de bem. Imagine-se a cena, um dia convenientemente sombrio (mas não chuvoso, o que seria contraproducente), o largo de S. Bento repleto de Cheganos (a escadaria não, isto é gente amiga da ordem e que respeita a lei), todos vestidos de branco, a cor da virgindade e da pureza  racial, de semblante muito sério, muitos com lágrimas nos olhos, alguns a rezar o terço, a deputada Marta Martins da Silva a fazer uma comovente dança fúnebre, os tambores do museu da Mocidade Portuguesa a rufar e o Ventura, a chegar, muito pálido e sereno, envolto numa grande bandeira de Portugal, de olhos postos no céu, a marchar lentamente em passo de procissão para a zona sacrificial, amparado pelo seu confessor privado. E depois, o seu bom e fiel lugar-tenente, aquele senhor que infelizmente tem com cara de mouro e triplo queixo,  que costuma estar sempre atrás dele nas entrevistas, a dizer que sim com a cabeça, transido de emoção e com mãos trémulas, puxaria de uma garrafa de litro de bom azeite português, cheia de gasolina de alta octanagem benzida pelo bispo de Lisboa e aspergeria abundantemente o seu líder; em seguida, Ventura faria um curto mas tocante discurso, em que ofereceria o seu sacrifício na defesa da Pátria, da Honra e do Bem, após o que ele próprio atearia o fogo e morreria num silêncio heroico, apenas quebrado pelos soluços e uivos de dor da multidão e pelo som das roupas a serem rasgadas em sinal de luto. Um pouco mais tarde, não faltariam também cinzas, para cobrir a cabeça com a mesma finalidade. E tudo isto seria transmitido pelas televisões para o resto do mundo, com destaque para uma equipa de enviados especiais da Fox News. Por uma vez, ninguém ia querer saber da Ucrânia e do Líbano.  Só de imaginar a cena dá-me arrepios patrióticos pela espinha abaixo, murmúrios de angústia vesicular e uma espécie de flatulência da alma.

Com o máximo de sinceridade de que sou capaz, não tenho dúvidas de que este nobre sacrifício seria muito benéfico para o país. Iria gerar um culto nacional concorrente ao de Fátima e do Pe. Cruz, com todo o bom Chegano a montar um altarinho em casa, em que a fotografia do abnegado líder estaria permanentemente ladeada por flores frescas e velas acesas. A própria Santa Sé não poderia ficar indiferente e é certo que contaríamos com mais um beato português, que seria mais tarde promovido a santo, talvez São Ventura (uma vez que já existe um Santo André). As autoridades deste país, especialmente agora, que se conseguiu expulsar o monhé para a Europa, iriam, finalmente, perceber que é essencial para o bem e o progresso dos verdadeiros portugueses, expulsar os emigrantes todos e branquear a população. E imagine-se o merchandising, a circular por todo o mundo, graças aos turistas, as estampas com a fotografia de Ventura, as piedosas medalhinhas de trazer ao pescoço, as t-shirts, os cachecóis…

A minha única dúvida é se o auto de fé deveria ocorrer no largo de S. Bento ou no Martim Moniz. Neste local, o simbolismo e a mensagem seriam duplamente evidentes. Martim Moniz entalou os testículos na porta do castelo, no cerco à moirama, em nome da Pátria. André Ventura queimaria os testículos e tudo o resto no lugar que tem o seu nome. O duplo simbolismo adviria do facto da moirama ter mais tarde reconquistado o Martim Moniz, passando por lá os dias a vaguear, sem fazer nenhum, a gastar os subsídios em bebidas exóticas, após que vão para casa fazer ranchadas de filhos que já nascem com direito a cidadania e, quando crescem, se entretém a vender droga e a queimar caixotes de lixo e autocarros.

Atreves-te, André? Fico com alguma esperança… se for preciso alguma coisa da minha parte, não sou rico, mas uma pequena contribuição, para uns decilitros de gasolina ou assim, é só dizeres. Tenho MBWay. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA CIDADANIA (BB158)

Outubro 23, 2024

Tarcísio Pacheco

 

BAGAS DE BELADONA (158)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA CIDADANIA – Não tenho dúvidas em afirmar que, a par do Português e da Matemática, a disciplina de Cidadania é das mais importantes do atual currículo escolar nacional. Como disciplina transversal a todo o percurso escolar, naturalmente com conteúdos e estratégias adequados a cada nível etário, acompanha o estudante desde o 1.º ciclo até ao final da sua formação obrigatória. É nesta disciplina que o estudante vai apreendendo conceitos que são fundamentais para desenvolver uma sociedade saudável e equilibrada. São conceitos e valores cada vez mais relevantes no turbulento mundo atual, em que forças sombrias trabalham ativamente para nos fazer retroceder centenas de anos, aos tempos da obscuridade intelectual, do fanatismo moral e religioso, da violência como instrumento de poder, da ignorância, da intolerância, da aversão primitiva e instintiva a tudo o que é diferente, do nacionalismo parolo.  

A nossa atual disciplina de Cidadania apresenta um vasto currículo de temas, muito bem selecionados e estruturados que, claramente, pretendem transmitir importantes valores universais, num quadro de evolução social e de mentalidades, que se relacionam com a cultura democrática, a cidadania ativa, o pacifismo, a tolerância, a não discriminação, a aceitação da diferença e a importância de continuarmos a ser um regime e uma sociedade laicos, com clara separação entre religião e estado. Ninguém diria, há uns anos, que este último item necessitaria de ser mencionado ou incluído, mas, tendo em conta a proliferação de igrejas evangélicas radicais nos últimos anos, com um discurso bélico e agressivo e claras intenções de controlar a sociedade, através dos media e das ligações ao poder político, torna-se fundamental garantir a continuidade deste pilar das sociedades democráticas evoluídas.

Temos assistido nos últimos dias às declarações públicas de uma série de atores políticos do grupo no poder, do 1.º Ministro a outros ministros e deputados sobre a necessidade de rever os currículos escolares. Tem sido patético observar como eles se esforçam por fazer eco das posições do Chega, num piscar de olhos à extrema-direita que acreditam ser imprescindível para os seus objetivos políticos. Mas sem nunca particularizar e esclarecer o que deve ser alterado nos currículos escolares, acredito que, basicamente, por vergonha. Claro que todos percebemos o que é que incomoda tanto os Cheganos e, quando eles têm o microfone, não se coíbem de o dizer claramente, são as questões ligadas à educação sexual, sobretudo no que respeita à tolerância, à não discriminação, ao respeito pela diferença e, acima de tudo, à identidade de género, a questão que lhes faz mais confusão. É isso que lhes frita mais neurónios e como eles não têm muitos, esses fazem-lhes falta.

Ao contrário do que diz o Chega, eles não querem retirar da disciplina de Cidadania conteúdos de caráter ideológico e de fação (seja lá o que isso for…). Ou melhor, não querem simplesmente retirá-los, querem retirá-los e substituí-los por conteúdos da sua cartilha ideológica, que é, como todos sabem, de natureza pró-fascista, com base no número dos seus votantes e na “vontade das famílias” – conceito absolutamente discutível e nebuloso.

Vamos ser claros, o Chega é o inimigo na sociedade portuguesa atual. E não acredito que 1.250.000 portugueses sejam pró-fascistas. Acredito que alguns o sejam, inevitavelmente, e que outros se cheguem para o partido por oportunismo. É o conhecido fenómeno bola-de-neve, um partido cresce e atrai bandos de carreiristas e oportunistas ambiciosos. Acredito, isso sim, que muitos se tenham deixado seduzir pelo  carisma pessoal do líder e ao seu discurso básico e demagógico. O exemplo histórico mais fácil, que todos conhecemos foi o de Adolfo Hitler, que nem sequer beneficiava de uma carinha laroca e ainda tinha um bigodinho ridículo. E todos sabemos como acabou.  É absolutamente arrepiante perceber como é fácil seduzir multidões quando se tem o dom da palavra e o verbo fácil. É que a multidão é a forma de vida mais estúpida que existe neste planeta.

Entretanto, deixem lá a disciplina de Cidadania em paz. Está muito bem como está atualmente. Como pai de uma estudante de 13 anos (pai de mais 3, mas, no tempo dos outros era só a pobre Religião e Moral Católicas…) não quero que mudem nada na disciplina de Cidadania. Ou, por outra, pode-se mudar sempre, claro, mas para melhor, no sentido evolutivo, inclusivo, libertário e sim, vanguardista, por que raio é que este adjetivo se tornou repentinamente negativo?

Por fim, é fundamental lembrar que os regimes totalitários deste mundo não toleram nem admitem nos seus currículos escolares, uma disciplina como a de Cidadania. Falo especialmente da Rússia, todos sabemos o que por lá se anda a ensinar nas escolas, nacionalismo, autoridade absoluta do estado, militarismo e intolerância em todos os sentidos.

Por isso, se não quisermos ficar parecidos com a sociedade russa ou bielorussa, com a América profunda de Trump, com o Brasil de Bolsonaro, com a sociedade dos aitolás iranianos, temos de ser mais inteligentes. E cortar o que for preciso. Na Revolução Francesa foram cabeças.  Senão, meus caros, ainda vamos voltar aos crucifixos e aos retratos dos governantes nas escolas…e aí eu teria, forçosamente, de entrar na clandestinidade e isso não me daria jeito nenhum hoje em dia, com a idade que já tenho e o barco ali na marina… POPEYE9700@YAHOO.COM

 

A RELIGIÃO CRISTIANO-RONALDISTA (BB157)

Julho 15, 2024

Tarcísio Pacheco

 

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imagem em: Anak Gang Sebelah: Inilah Karikatur Lucu Pemain Sepak Bola (unnuuuyyyy.blogspot.com)

BAGAS DE BELADONA (157) 

 

HELIODORO TARCÍSIO  

 

BAGA RELIGIÃO CRISTIANO-RONALDISTA – Sou apreciador de futebol, sportinguista sem fanatismos, antigo praticante e, naturalmente, sigo com atenção o percurso da nossa seleção nacional, vivendo com emoção as alegrias e tristezas.  

O artigo do meu prezado amigo, Armando Mendes (AM), no DI de 5 do corrente, sobre a prestação de Portugal no Euro 2024, provocou-me um nervoso miudinho, mas preferi aguardar pelo desfecho do jogo Portugal-França antes de me pronunciar. É que se Cristiano Ronaldo (CR) tivesse jogado bem e marcado golos, tudo lhe seria perdoado, a ele e ao padrinho Martinez. Contudo, foi o que se viu e já lá vamos. 

O Armando Mendes, rapaz da minha geração, colega de Liceu, por quem nutro estima e consideração, é jornalista profissional e homem de muitos pergaminhos e pós-formações. Só não sabia que, aparentemente, na sua obesa carteira académica, ele também contava com pós-graduação de treinador de futebol e mestrado em jornalismo desportivo. Só assim se entende que, para AM, todos os profissionais de jornalismo desportivo e as carradas de opinantes de passagem de todos os quadrantes que, ao longo do Euro criticaram a seleção, Martinez e CR sejam  “treinadores de bancada”.  

Para que fique tudo bem claro, nem sequer vou emitir qualquer opinião pessoal sobre a carreira e figura de CR porque não me parece relevante para o tema em análise. Se sou “messsiano” ou “ronaldista”, não é para aqui chamado. Basta dizer que nada tenho contra a figura que, de resto, só conheço dos media, que lhe desejo muita sorte e saúde para o resto da sua vida, que admiro a carreira fantástica que construiu desde a academia de Alvalade e que, enquanto português interessado por futebol, lhe sou reconhecido pelas brilhantes prestações que teve no passado na seleção e pelas diversas vezes que foi o salvador da equipa nacional.  

Analiso este tema como sempre fiz ao longo da minha vida; o passado ficou lá atrás e é irrecuperável, o futuro é incerto para todos nós, o que conta é sempre o momento presente. CR pode ter sido uma estrela mundial, mas já não o é e isso nem sequer começou agora. Ainda hoje, li um artigo de um conceituado jornalista desportivo italiano; dizia ele que é um admirador da seleção portuguesa e um fã devoto de CR, que considera uma lenda do desporto mundial, mas que, no Euro 2024, CR teve uma prestação abaixo de medíocre, que Portugal jogou sempre com 10 e sem ponta-de lança, o que, naturalmente, teve decisiva influência no rendimento da equipa.  

Vamos a factos do presente. A prestação de CR no Euro 2024 foi bastante semelhante à que ocorreu no Mundial de 2022, mas ainda pior. Há dois anos, já CR estava em notório e natural declínio. Refresquemos a memória:  a diferença em 2022 foi que Fernando Santos, um treinador que nunca apreciei, teve a admirável coragem e lucidez de deixar CR no banco. Foi no dia em que ganhámos à Suíça por 6-1, com o substituto direto de CR, Gonçalo Ramos, a fazer um grande jogo e a marcar 3 golos. Lembro-me bem das caretas de azedume de CR nesse dia e da sua falta de entusiasmo para festejar os golos do Gonçalo. Desta vez, o treinador é Martinez, o qual beneficiou de um longo estado de graça que, claramente, já terminou e não volta.  

Por não ter formação técnica específica, abstenho-me de analisar as estratégias de Martinez neste Euro. Porém, tenho o direito de expressar a minha opinião, livre e democraticamente, sem ser apelidado de “treinador de bancada”. Sem mais explicações, afirmo que, depois desta prova, não sou apreciador do perfil de Martinez, enquanto treinador de futebol. Não porque Portugal tenha jogado sempre mal, por vezes a equipa esteve bem e, na partida contra a França, em minha opinião, estivemos mesmo melhor do que o adversário. Alguns jogadores estiveram muito bem, como Palhinha, Pepe (fífias à parte), o guardião Diogo, Vitinha, Cancelo e Rafael Leão. Outros, de quem muito se esperava, estiveram sofríveis, especialmente, Bruno Fernandes, que foi uma desilusão. Nem refiro CR porque ele esteve ausente em todas as cinco partidas, um jogador a menos, de quem nunca se viu uma gracinha, um drible, um bom remate ou uma cobrança eficaz de um livre. Muita correria, muito pulo, falhanços indesculpáveis, um penalty por concretizar, enfim, zero futebol.  

No cômputo geral, não vi que Martinez tivesse feito grande coisa para melhorar o nosso crónico problema da finalização, além de ter delineado algumas estratégias que não pareceram fazer sentido, vistas de fora e ter desvalorizado quase por completo, o nosso magnífico lote de suplentes. Mas, acima de tudo, não lhe perdoo a reverência imbecil e totalmente injustificada a CR, o facto de ter dado a titularidade quase a 100% a uma unidade em claríssimo sub-rendimento e ainda o facto de lhe permitir ser o dono de todos os livres perigosos da equipa, assim como dos penalties.  

Humildemente, assumo que pouco entendo de futebol em termos técnicos. Mas outros entendem por mim. Sem sequer referir as paletes de opiniões críticas do adepto comum, sem a menor dúvida, afirmo que no meio desportivo profissional, quer em Portugal, quer no estrangeiro, a opinião unânime foi que CR esteve medíocre e que nunca deveria ter jogado a titular sempre e o tempo todo. Como escreveu um insuspeito jornalista desportivo português, Martinez transformou o Euro 2024 numa tournée de despedida de CR.  

Para mim, a grande nota positiva da nossa participação foi termo-nos livrado finalmente de um CR decadente. Prevejo um futuro brilhante para a nossa seleção, embora não necessariamente com Martinez. Para que AM não fique muito abespinhado, faço-lhe saber que uma das minhas filhas é ronaldinha e ficou amuada comigo. Vivo o problema portas adentro. Nada posso fazer, afinal, como em qualquer religião, não vale a pena argumentar com os cristiano-ronaldistas. Amén.  

POPEYE9700@YAHOO.COM 

 

BAGA AMOR DE PAI TEM PODER BB155

Março 22, 2024

Tarcísio Pacheco

 

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BAGAS DE BELADONA (155)

HELIODORO TARCÍSIO          

 

BAGA AMOR DE PAI TEM PODER - Na passada semana, ao contrário do que é costume, escrevi sobre política e sobre o Chega e Ventura. Eles não são nada importantes, mesmo que no conflito nuclear que pode estar a avizinhar-se, Ventura, a esposa e a substituta da coelha Acácia (RIP) venham a fazer parte do grupo VIP com direito a mudança para um dos bunkers NBQ (Nuclear, Biológico,Químico) que existem por esse mundo fora, para albergar os donos das nossas vidas, quando fugirem da hecatombe que eles próprios criaram.

Por isso, esta semana, no Dia do Pai, decidi escrever sobre algo completamente diferente, um cruzamento das minhas memórias de infância com eventos recentes.

No passado dia 9 de março, a minha filha mais nova, Júlia, fez treze aninhos. Tenho quatro filhos, amo-os a todos por igual, mas esta é a caçula, sou louco por ela, amo-a perdidamente. Adiante, isto é pessoal, façam de conta que não leram, já explico o resto.

Um dos cenários da minha infância foi a rua dos Canos Verdes; morei lá em duas casas diferentes, nos anos 60, que já não existem, foram substituídas por outros edifícios. E só isto já mexe com a gente, saber que algo que nos foi tão familiar e tão querido já só existe na nossa mente e em meia dúzia de fotografias. Fechando os olhos, vejo com os olhos da alma, mas com todo o detalhe, o interior da minha antiga casa da esquina da rua dos Canos Verdes com a rua da Rosa. Nessa época, fazia parte de uma tribo de miúdos dos Quatro Cantos (espaço territorial que, numa perspetiva alargada, ia do Alto das Covas à rua de Jesus e à Rocha, incluindo o Relvão, o cais da Figueirinha e o próprio Monte Brasil). Como é sabido, nesse tempo, não havendo as parafernálias tecnológicas do presente e nem sequer televisão (pelo menos até 1975 e aos meus 14 anos), brincávamos imenso na rua. Ao envelhecer, é inevitável sermos invadidos de vez em quando pelas saudades da nossa meninice. É um processo dolorosamente sublime. Uma das minhas recordações mais pungentes é a das longas, doces e cálidas noites de Verão, em que as famílias daquela zona se juntavam no miradouro da Rocha (junto ao atual pub “O Pirata”) e ficavam numa amena cavaqueira entre amigos e vizinhos, enquanto as crianças brincavam por ali, algo que se tornou tristemente incomum nos dias de hoje, em que as pessoas ficam em casa, agarradas ao Facebook ou à estupidificação da TV das novelas, Big Brother e concursos.

Dessa tribo dos Quatro Cantos, entre outros, sem ser nada exaustivo, faziam parte o meu irmão, Tomás (a viver em Paris), os irmãos Medeiros (Rui, Alberto, João), meus amigos de infância, o Quim, antigo jogador e treinador de futebol, pessoal da rua de Jesus como o João Luís da Zenite (que não larga a rua de Jesus), o Félix e o irmão António, o Peres carteiro (RIP), o João Paulo e outros, uns já desaparecidos, outros vivos e pela Terceira, outros emigrados ou ausentes em parte incerta.  Circulávamos muito pelo Relvão e adjacências. Nessa época, o Relvão era apenas um monte de relva brava, uns atalhos e um campinho de terra batida (no atual campo de basquete) onde jogávamos à bola. Éramos muito criativos, tínhamos muitas brincadeiras diferentes. Uma delas era arranjar bons caixotes de papelão, desmontá-los e depois usá-los como uma espécie de trenó para descer vertiginosamente a encosta de relva do castelo, em frente à entrada principal do Relvão, sendo detidos apenas por uns arbustos que havia à beira da estrada. Havia trenós individuais e de duas ou mais pessoas.

Ora, há alguns anos, falei disto à Júlia. Ela nunca mais se esqueceu e dali para a frente, chagava-me frequentemente o juízo, para irmos escorregar na encosta. Nunca lhe disse que não, mas tinha sempre uma desculpa: não temos papelão adequado, a relva está muito húmida, tem de estar bem seca, a relva está muito alta, a relva está demasiado curta, dói-me a cabeça, choveu, está a chover ou vai chover. E nunca chegámos a ir escorregar na encosta. Agora, que Júlia já tem treze anos, é uma menina doce, que ainda pede ao papá para lhe ler uma historinha antes de dormir. Mas não voltou a falar dos papelões. Acho que é tarde demais. Frequentemente, adiamos as coisas boas que queremos fazer. E chega sempre um dia em que o tempo certo já passou. Então, é esta mensagem que vos deixo. Não adiem nada que queiram mesmo fazer (desde que seja pacífico e legal, claro). O tempo certo é hoje, é agora. Amanhã pode ser tarde demais.  POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA CHEGANICES (RIMA COM CIGANICES) BB154

Março 15, 2024

Tarcísio Pacheco

 

 

 

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imagem em: Mocidade Portuguesa, cartoon de Vasco Gargalo d’prés João Abel Manta, Salazar e André Ventura, 2020, Portugal. – Arquipélagos (arquipelagos.pt)

BAGAS DE BELADONA (154)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA CHEGANICES (RIMA COM CIGANICES…) -  Não escondo que o Chega me dá azia (como, aliás, a política em geral), mas vou resolvendo isso com sais de frutas ENO (a referência comercial é para ver se arranca de vez a minha carreira de influencer e começo a receber uns cobres…). Simplesmente, não vale a pena preocuparmo-nos com o que não podemos mudar. Diz o sistema que o voto é a arma do povo, mas o que se pode fazer, na verdade, se, por cada inteligente que vota, votam também dez idiotas, ignorantes, neofascistas, velhos fascistas, antigos pides, simples oportunistas, ressabiados ou jovens empreendedores imbuídos de espírito competitivo e à espreita de boas oportunidades para usar gravata e subir na vida. Ouço dizer que muitos votam Chega porque estão fartos dos partidos tradicionais, cansados de promessas jamais cumpridas e de problemas locais que nunca mais se resolvem. Não duvido que assim seja e até entendo. Sou terceirense e de promessas por cumprir, entendo eu. Porém, o fenómeno do Chega vai muito para além disso. Se fosse só por cansaço e protesto, as pessoas votariam num qualquer dos pequenos partidos que infestam a nossa cena política e há-os para todos os gostos.  Acredito que a maior parte dos cheganos vota no líder, André Ventura. Este é um claríssimo exemplo de líder populista, que está na moda nos tristes dias de hoje. O significado do termo populismo é variável no tempo e no espaço e não é sequer recente, os líderes populistas sempre existiram na História, só não lhes chamávamos isso. Contudo, é geralmente aceite que eles partilham uma série de caraterísticas: boa comunicação, perfil de liderança, capacidade para convencer o cidadão comum e influenciar pessoas, criticismo, inteligência ou esperteza (conceitos diferentes), oportunismo, conservadorismo, militarismo, nacionalismo, moralismo, racismo, na atualidade, descrença no desastre climático que se avizinha, messianismo próprio e uma aura mística ou religiosa, que ajuda bastante se estiver presente e frequentemente está, mesmo que de forma hipócrita. Dois dos líderes populistas mais conhecidos na atualidade, são Trump e Bolsonaro, que nada têm de religioso, mas que vimos frequentemente a serem “abençoados” por sacripantas evangélicas ou radicais bíblicos que, inclusivamente, levaram para os seus governos. Ora, Ventura é um pouco de tudo isto, até andou no seminário e tem um “confessor” privado, algo que era reservado antigamente aos membros da nobreza. E se o compararmos com os dois referidos populistas, Ventura até leva larga vantagem. Trump não passa de um burro gordo e endinheirado, um pateta palavroso e vazio, duma ignorância, truculência e grosseria inacreditáveis.  Bolsonaro, pior ainda, é um simples capitão do exército com pouco préstimo, que se meteu na política, é igualmente ignorante, deve pouco à inteligência e nem sequer falar sabe, era um exercício penoso e cansativo ouvir aquela criatura, o tal que “não era coveiro”. E ambos atraíram milhões nos seus países, de todas as classes sociais.  Óbvios racistas, tiveram inúmeros votantes nas comunidades negras e latinas.  Ora, Ventura é claramente mais inteligente, mais bonito, melhor comunicador que qualquer um deles e, é ambicioso, religioso e ainda por cima, é do Benfica e percebe de futebol. É o genro que qualquer pai portuga e básico quer. Ele é o abençoado, o eleito, o queridinho da catequese, o mais inteligente de todos, o que não tem papas na língua, o que diz as verdades todas, o ungido do Senhor e, claro, o único que pode levar Portugal para a frente, o D. Sebastião do séc. XXI.

Havia a mania parva de que Portugal era imune ao crescimento da extrema-direita, mas é claro que era só uma questão de tempo. Ventura pode ser bonitinho, mas não é exatamente original. A dolorosa verdade é esta, vivemos um pavoroso tempo histórico em que a extrema-direita ganha força e se consolida, um pouco por todo o lado. Isto é como uma epidemia de peste, alastra depressa. Um velho fascista local anda deliciado, a babar-se todo publicamente por Ventura, porque, claro, jamais imaginou que antes de morrer ia ver isto voltar ao tempo em que servia de cão de fila de Salazar. Eles estão por todo o lado e estão a chegar ao poder ou já lá estão, na vizinha Espanha, na insuspeita e revolucionária França, na bela Holanda, na Hungria, na Eslováquia, na Itália. E porque é que isto acontece? Porque as pessoas votam neles.

E assim chegamos aos eleitores de Ventura. Temo-los visto e ouvido, por todo o lado, dantes constituíam o principal manancial para as piadas de Ricardo Araújo Pereira no seu “Isto é Gozar Com Quem Trabalha”, uma pessoa que, obviamente, Ventura deve odiar. Dantes, eram sobretudo uns patuscos que, se fosse na Terceira, dizíamos que tinham vindo de S. Rafael, abusado das bujecas  ou fumado papoilas secas. Ou eram como aquele miúdo tontinho, que foi todo engravatado para o último congresso do Chega e se atreveu a falar ao microfone, para dizer que pensava como Ventura, mas não sabia o que Ventura pensava porque, obviamente, não andava dentro da cabeça das pessoas. Antes era destes ignorantes ou simples estúpidos que aplaudem freneticamente o líder, mesmo quando não entenderam nada e papagueiam o que dele vão ouvindo. Mas à medida que o partido vai crescendo, outra fauna vai chegando e começam a aparecer alguns predadores com outras posições na cadeia alimentar. São os bem-falantes, os imitadores do líder, os dissidentes de outros partidos, os vira-casacas, os antigos comunistas de Setúbal, do Alentejo, do Algarve, os ambiciosos, os caciques locais, os betinhos sem lugar nas juventudes partidárias e, sobretudo, gente que nunca sonhou chegar a deputado e que vê agora abertas as portas de S. Bento e, quiçá, um dia, um lugarinho no Governo, um chefe de gabinete, um porta-voz, um adido de imprensa, por algum lado se chega à gamela do poder. Permanecem aqueles que sempre partilharam o ideário de Ventura, os cheganos ou melhor dizendo, venturinos legítimos.

É evidente que Ventura é uma criatura abominável. Não pelo esposo, filho, amigo, irmão ou pai que possa ser. Nada sabemos disso nem nos deve interessar. Ventura é um candidato a líder político de um país e tudo o que nos deve interessar é o que ele pensa sobre a vida e as coisas da vida. E, ao contrário do que disse aquele tontinho engravatado que o RAP impiedosamente crucificou, qualquer pessoa minimamente atenta sabe bem o que pensa Ventura pois ele já o revelou muitas vezes. Mesmo que, como qualquer líder inteligente que ainda não chegou ao poleiro grande, ele já tenha revisto e maquilhado o seu discurso, para não assustar os direitas mais tímidos. Mas, se ele um dia chegar ao poleiro grande, vai fugir-lhe a boca para a verdade, foge sempre. Hitler não começou logo por revelar que queria exterminar todos os judeus do mundo. Começou por dizer que os outros políticos eram todos corruptos, que ele era o único são e que as culpas do estado da nação alemã eram de grupos específicos de cidadãos, os “inimigos do Estado” … soa a dejá vu? É natural. Começou assim, o resto veio depois.

Também é evidente que nem todos os cheganos são neofascistas, ultranacionalistas, radicais religiosos, militaristas e outras alpistas, como o seu dono. Cada vez mais veremos gente dita “normal” entre eles, vizinhos, amigos, colegas de trabalho e até familiares, como aconteceu com o Bolsonarismo no Brasil.  Serão, na sua maioria, os seduzidos pela carinha laroca, o verbo fácil de Ventura e o seu pacote de geniais soluções para qualquer problema, prontas a usar (é só juntar água). Mas, infelizmente, é o tempo desta gente. Todos os que não são como eles, devem combatê-los (pacificamente, claro), tentar derrotá-los, mas temos de aceitar que o processo siga o seu caminho, que Ventura, o Chega e os cheganos todos cheguem lá acima, vejam a mesma vista que todos os que estiveram lá já viram antes e depois desçam, ordeiramente ou aos trambolhões e até empurrados, se assim tiver de ser. O Chega passará, como tudo passa nesta vida, mesmo que até o mundo e a própria vida passem.  POPEYE9700@YAHOO.COM

 

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